A coprofagia se caracteriza pela ingestão das próprias fezes ou ainda dos excrementos de outros animais. Cães e gatos podem apresentar esse hábito, mas ele se mostra mais frequente em cães.
A coprofagia em cães e gatos pode incluir uma ou mais causas:
- Fatores genéticos e hereditários;
- Subnutrição/dieta;
- Causas comportamentais;
- Infestações parasitárias;
- Doenças que possam causar má absorção de nutrientes.
Coprofagia por subnutrição
As principais causas dietéticas e nutricionais de coprofagia canina e felina incluem:
- falta de nutrientes, como a vitamina B1 e outras;
- baixa quantidade de proteínas e gorduras no alimento;
- alimentos de baixa qualidade nutricional;
- alimentos com baixa palatabilidade;
- doenças gastrointestinais podem gerar lesões nas vilosidades intestinais e demais estruturas, comprometendo a absorção de nutrientes e, consequentemente, podendo gerar quadros de desnutrição.
Na coprofagia por causas dietéticas, os cães também podem ingerir fezes de outros animais, como por exemplo ração de gato (com alto teor proteico)
Verminoses
A coprofagia em cães e gatos também pode ocorrer pela presença de parasitas intestinais, vermes e protozoários, resultando na baixa absorção de nutrientes e problemas de saúde, como pancreatite crônica, insuficiência hepática, doenças intestinais e outros.
Causas comportamentais
O animal pode apresentar comportamentos de coprofagia por razões naturais, como em momentos de brincadeiras, como forma de curiosidade ou para imitar outros animais
Muitos tutores acabam gerando estresse e ansiedade no pet devido a ações como: superpopulação de animais no ambiente, permitir livre acesso às ruas, confinamento em espaço limitado, falta de atenção e cuidados essenciais. Além disso, muitos não sabem como repreender o animal na hora do ocorrido e acabam estimulando o comportamento inadequado do pet.
Nesses casos, animais com comportamento de coprofagia geralmente apresentam ansiedade ou ansiedade de separação:
- estresse (por diversas causas);
- tédio (por diversas causas);
- brincadeiras, imitação de outros animais ou curiosidade (visto geralmente em cães filhotes).
Há ainda o estímulo de defecação/micção e higiene de filhotes, um comportamento natural exercido pela mãe. Nesses casos, a coprofagia só ocorre por um período determinado e não necessita de correções de manejo.
O animal também pode apresentar coprofagia para chamar a atenção do tutor. Geralmente esse comportamento é reforçado pela reação emocional do tutor, que o animal pode entender como ganho de atenção, o que chamamos de reforço positivo. Então, o animal irá repetir o comportamento outras vezes, visando receber a atenção do humano.
O que fazer nestes casos da coprofagia
O Médico Veterinário também deve orientar o tutor a evitar a punição, pois caso o responsável brigue com o animal que ingeriu as fezes, o pet pode se confundir e entender que a punição ocorreu por ele ter defecado. Portanto, a punição pode gerar ansiedade e estresse no animal, que pode acabar entendendo que precisa comer as fezes para eliminá-las do local e, consequentemente, agradar o seu tutor.
Sendo assim, o melhor a se fazer nesses casos é ignorar a atitude do animal e aplicar as correções de manejo orientadas pelo Médico Veterinário durante a consulta e direcionadas de acordo com cada situação. Caso o problema não seja resolvido, o tutor poderá ainda buscar a ajuda de um profissional especialista em comportamento (veterinário ou biólogo). Nesse caso, o profissional irá analisar todo o cenário e traçar uma estratégia para corrigir o problema de forma individualizada e específica para o caso.
Para tratar é necessário identificar a causa responsável por desencadear o comportamento.
Veja uma relação entre as principais causas e os tratamentos indicados:
- coprofagia por subnutrição: caso a subnutrição seja por alimentação de baixa qualidade ou pouca quantidade, o Médico-Veterinário deve recomendar a alteração do tipo de alimento fornecido ao pet para uma dieta de alta digestibilidade e com altos índices nutricionais. Além disso, deve-se recomendar também a quantidade ideal de alimento de acordo com a necessidade energética diária do indivíduo. Se a causa da subnutrição for alguma patologia, deve-se tratar ela devidamente.
- coprofagia por verminoses: é recomendado que os filhotes sejam vermifugados entre os 15 e 30 primeiros dias de vida. O medicamento deve ser apropriado para uso em filhotes, além de ser escolhido de acordo com o tipo de parasita envolvido. O protocolo a ser definido dependerá também do fármaco usado, assim como a necessidade de doses subsequentes.
- causas comportamentais: Há algumas alternativas para tratar problemas comportamentais, como o enriquecimento ambiental, que pode ser um aliado para aliviar a ansiedade, o estresse e o tédio, uma vez que estimula que o pet interaja com a fonte de estímulos no ambiente de cativeiro. Além disso, a distribuição correta do espaço de dormir, alimentar-se, defecar e urinar são essenciais para evitar os distúrbios comportamentais. Passeios, brincadeiras, demonstrações de afeto, carinho e atenção do tutor também contribuem muito para a redução da coprofagia (MEYER et al, 2014).
Outras formas de evitar a coprofagia
Borrifar nas fezes substância amarga própria para repelir animais pode fazer com que o cão cheire os excrementos e não tenha mais interesse na ingestão.
Se o cachorro mostra interesse pelas fezes dos gatos da casa, o ideal é impedir o acesso deles às caixas de areia, que você pode posicionar em locais mais altos ou dentro de móveis criados para este fim, onde somente o gato consiga acesso.
O veterinário que pode indicar também a utilização de algum medicamento que torne as fezes menos palatáveis. Uma outra dica é oferecer mamão, que contém papaína, uma enzima conhecida por digerir proteína.
Cadelas com filhotes comem as fezes do ninho para mantê-lo limpo. E filhotes podem também brincar com o cocô, comportamento que tende a desaparecer à medida que crescem.
Texto: Médica Veterinária Caroline Bierbaumer – CRMV/SP 21394